O ensino de/em inglês no Brasil vem se transformando ao longo dos últimos anos com um expressivo crescimento de programas de inglês e/ou bilíngues e de escolas bilíngues e internacionais.
Com esse aumento e a necessidade de formação de professores que atuam nesse contexto, tanto as instituições como as famílias tendem a ficar um pouco confusas diante de tanta oferta e se o aprendizado de/em inglês na escola traz benefícios reais a seus filhos.
Com isso, criaram-se diversos mitos sobre o termo bilíngue. É importante o esclarecimento acerca dessas crenças para que possamos avançar no entendimento conceitual e metodológico do fenômeno.
A seguir, destacamos cinco mitos que vêm sendo difundidos atualmente e que irão lhe proporcionar informações relevantes sobre esse tema.
Se é para aprender inglês, só há duas escolhas: Britânico ou Americano
Com a língua inglesa recebendo o status de língua franca, ou seja, que corresponde a qualquer uso da língua entre falantes de outras línguas maternas para quem o inglês é o meio de comunicação escolhido, a maior parte das interações acontece entre não nativos.
O inglês ‘descolou-se’ dos contextos de países onde é falado como primeira língua e, agora, faz parte do mundo. Não se pode ignorar o fato de que chineses e brasileiros, ou espanhóis e alemães se comunicam em inglês mesmo na ausência de um falante nativo dessa língua.
É a língua de trabalho, da ciência e pesquisa, do entretenimento e do turismo. Para levar a sua ideia ao mundo, sem tradutores e embaraços, aprender inglês é essencial. O bom uso do inglês que comunica e embasa as ideias é também o que abre caminhos e é bem-vindo em um mundo globalizado.
Na fala, o sotaque que imprimimos e mesmo as expressões que usamos de uma língua para outra fazem parte da diversidade linguística da inclusão, respeito e reconhecimento de que, se uma pessoa fala inglês com sotaque, ela é pelo menos bilíngue e isso representa seu esforço, sua dedicação e determinação, qualidades que nenhuma outra pessoa poderá julgar como ‘pontos de melhoria’. O objetivo é a compreensão, o entendimento por meio das mais variadas nuances que cada um de nós imprime em sua expressão oral.
O falante bilíngue é aquele que usa duas línguas da mesma forma e proficiência
Há inúmeras definições e confusões acerca do termo bilíngue. Há diferentes dimensões e habilidades a serem levadas em consideração. A partir do repertório linguístico de uma pessoa, as duas línguas não estão separadas e uma língua afeta a outra e a sua competência em uma e na outra não é idêntica e nem poderia.
As demandas das línguas são diferenciadas a partir do contexto em que estão inseridas, ou seja, se em minha casa usamos o português, essa língua terá uma fluidez e projeção diferente e relevante a esse momento. Se em meu trabalho eu uso o inglês, muito provavelmente haverá inúmeras expressões e códigos sociais que não farão sentido se aplicado ao português. Na escola, com os professores de inglês ou aqueles que lecionam conteúdo em inglês, essa seria a forma de comunicação primeira, e assim por diante.
O espectro bilíngue nos ajuda a perceber que falantes de duas línguas desfrutam de habilidades linguísticas variadas. Alguns indivíduos bilíngues são capazes de falar e escrever em ambas as línguas, outros são capazes de entender e ler. Alguns estão em um estágio inicial de construção de uma segunda língua; eles podem compreender, mas não conseguem falar. Alguns estão no meio e outros estão no final. Grosjean (1985) sugere que a proficiência nativa em ambas as línguas, conhecida como bilinguismo verdadeiro, é um fenômeno raro. Portanto, como Baker (2006) aponta “definir exatamente quem é ou não bilíngue é essencialmente evasivo e, em última análise, impossível”.
Em suma, pode-se concluir que qualquer pessoa que seja capaz de entender uma segunda língua ou comunicar sua mensagem em uma segunda língua, independentemente do nível de proficiência, pode ser vista como bilíngue. Com a instrução e o tempo adequados, os bilíngues podem continuar a melhorar nas áreas onde falta fluência ou competência, pois o bilinguismo e o plurilinguismo não são condições estáticas.
Vivemos em um país onde se fala
apenas o português, portanto, como aprender inglês e ser bilíngue de fato
O Brasil não é um país de uma língua só, ou seja, monolíngue. Somos um país marcadamente constituído por uma grande diversidade cultural e linguística. São faladas, hoje, em nosso país, mais de 270 línguas. O Brasil é o país com o oitavo maior número de línguas em uso. A maioria delas é das comunidades indígenas.
A ideia de que o Brasil, além de ser uniforme culturalmente, é uma nação onde se fala única e exclusivamente o português é um outro mito – o mito do monolinguismo – que foi fortemente enraizado em nosso país e tende a desconsiderar a existência das minorias linguísticas da nação que, compostas por membros de nações indígenas, de comunidades surdas e de imigrantes, representam uma parcela considerável da população brasileira.
Desde o ano 2000, foram cooficializadas onze línguas – akwê-xerente, alemão, baniwa, guarani, hunsrükisch, macuxi, nheengatu, pomerano, talian (ou vêneto brasileiro), tukano, wapixana – em dezenove municípios brasileiros. Cooficializar uma língua significa que, além do português, todos os órgãos da prefeitura e da iniciativa privada devem oferecer serviços também nas outras línguas oficiais. Isso inclui todos os serviços básicos de atendimento ao cidadão, como por exemplo: a documentação pública municipal, as campanhas publicitárias institucionais, a contratação de intérpretes falantes das línguas cooficiais no atendimento dos serviços públicos e privados e as placas de sinalização, entre outros serviços. Assim, vemos que a riqueza linguística no Brasil é ampla e vai além da língua portuguesa.
A alfabetização deve ocorrer primeiro em uma língua e, depois, em outra
O falante bilíngue não é um duplo monolíngue que possui controle de duas línguas de formas separadas e distintas. Desse modo, é natural crianças experimentarem a escrita e a leitura em uma determinada língua na escola e se aventurarem a tentar escrever também em outra língua, mesmo que a escola separe esses momentos.
Devemos nos lembrar que essas duas línguas fazem parte do cotidiano de crianças que estudam em instituições com programas de inglês avançado ou bilíngues e, com isso, não há nada mais esperado do que as tentativas das crianças de escrever palavras e frases referentes ao que faz sentido para elas – tudo isso por meio das línguas que compõem seu repertório linguístico.
É importante frisar que não há risco para as crianças vivenciarem o processo de sistematização da escrita e da leitura simultaneamente em duas línguas no ambiente escolar. As modalidades organizativas de biletramento ocorrem apenas institucionalmente. Na fluidez do dia a dia, as línguas acontecem a partir do que é significativo aos falantes bilíngues.
A criança não passa por processos separados em cada uma de suas línguas. Pelo contrário, a criança que tem contato com duas línguas constrói conhecimentos e desenvolve habilidades utilizando todo seu repertório linguístico. Desse modo, o aluno bilíngue que desenvolve habilidades de escrita e leitura aprenderá também quais elementos são transferíveis de uma língua para outra e quais não o são. E cabe aos educadores e pais celebrarem essa diversidade linguística e incentivarem todo o processo.
Um trabalho pedagógico adequado e intervenções apropriadas dos professores fazem com que esse processo ocorra sem criar demandas cognitivas ou emocionais que a criança tenha dificuldade em lidar.
Muitas vezes adultos que têm dificuldades no aprendizado de línguas adicionais se deve ao fato de que se criou um bloqueio ainda quando estavam na escola. Aprender a se comunicar em mais de uma língua é fascinante, enriquecedor e promove uma série de vantagens cognitivas e sociais.
É possível aprender inglês em
12 meses
Aqui, a sua habilidade de dedução será a resposta. Quando uma criança nasce, o seu cérebro é capaz de aprender qualquer/quaisquer língua(s) do planeta. Para isso, é preciso exposição, repetição e espera. Antes mesmo de nascer, a criança já está exposta aos estímulos externos do mundo em que irá conviver, atuar.
Ela passará por várias fases, desde a escuta dos mais variados sons, a reprodução de ruídos, as tentativas de elaboração de fonemas, palavras, frases e ideias, o que leva em média de 3 a 5 anos com exposição frequente e significativa. E, ao frequentar a escola, vai aprender muito mais: como enriquecer seu vocabulário, interpretar textos, melhorar seu discurso em debates, apresentações e textos, tanto falados como escritos. Ela vai se aperfeiçoando ao longo dos 12 anos (e não 12 meses) a 16 anos de vida escolar.
Ou seja, para ser um falante fluente, articulado e apto a compreender e interagir em uma língua, o processo todo é construído gradual e constantemente. Não é possível pular etapas e nem mesmo acelerá-lo, pois as nuances da comunicação vão muito além da gramática e do vocabulário.
Da próxima vez que você se deparar com o termo bilíngue, já terá uma boa bagagem de conhecimento para poder dialogar e refletir. Para que o aluno se torne um falante bilíngue em contexto escolar, deve-se levar em consideração alguns fatores essenciais, a começar pela escolha de um programa sério, competente e que reconheça como é manejar a língua e o contexto em que ela acontece.
Então, desejamos uma jornada de sucesso e muitos aprendizados em inglês, com docentes habilitados, programas embasados e vontade de se comunicar para além das fronteiras, sejam elas locais ou nacionais.